Durante muito tempo a urologia ficou sem uma opção de tratamento medicamentoso para os cálculos que se encontram no canal que vai do rim até a bexiga, o ureter. Não são raros os relatos de que, nesta situação, os pacientes eram orientados a voltar para casa com uma receita de analgésicos, encher uma banheira de água morna e beber cerveja (!!!!) no intuito de promover alívio da dor e aumentar o fluxo de urina no ureter (causado pelo efeito do álcool no organismo).
Há alguns anos, a tansulosina – um alfa-bloqueador utilizado para o tratamento do aumento benigno da próstata (HPB) – vêm ganhando força como opção na chamada terapia medicamentosa expulsiva (TME). O racional por traz do uso da medicação é que ela seria capaz de bloquear a musculatura do ureter bem próximo de sua entrada na bexiga, aumentando o seu diâmetro e, assim, facilitar a passagem espontânea do cálculo do canal para a bexiga.
Isso se demonstrou verdadeiro nos primeiros estudos clínicos realizados para testar essa hipótese, porém, recentemente, desde a publicação de um robusto ensaio clínico randomizado por placebo pelo autor Pickard (Reino Unido), o benefício da tansulosina em aumentar a passagem dos cálculos no ureter vem sendo questionada. O estudo avaliou cerca de 1200 pacientes em vários centros espalhados pelo Reino Unido e não houve diferenças entre os pacientes que tomaram tansulosina, nifedipino ou placebo. Várias críticas podem ser realizadas a esse estudo, mas ele foi extremamente relevante para levantar o debate acerca do tema.
As diretrizes de tratamento do cálculo ureteral, orientam o uso dessa medicação, porém órgãos regulatórios – como o FDA nos EUA e a ANVISA no Brasil – não reconhecem a indicação desse remédio e portanto não consta na bula como uma medicação segura e eficaz nesse cenário (uso off-label).
Ainda temos muito que avançar! A medicina é a ciência das verdades transitórias. O que não podemos é deixar de estudar e procurar compreender a natureza e como os medicamentos podem beneficiar nossos pacientes.